Desde que se popularizaram, os memes (conceitos ou acontecimentos que se espalham via internet em vários formatos, especialmente montagens) invadiram inúmeros segmentos da nossa vida online ou offline; cultura, esporte, política, nada escapa do humor da internet. Mas que tipo de influência os memes podem exercer sobre uma campanha? Como eles se relacionam com a evolução política de um candidato?
Essa relação memes-política ficou bem clara já nas eleições presidenciais americanas de 2012. Os usuários da internet usaram memes para ressaltar discursos e ironizar posicionamentos, notícias e histórias dos candidatos. Um caso que ficou muito marcado foi quando Mitt Romney disse em um debate que, para reduzir o déficit nas contas do país, ele cortaria a verba da PBS, emissora sem fins lucrativos financiada pelo governo. Nas palavras de Romney, ele adora a PBS, adora o Garibaldo (personagem de Vila Sésamo, show da emissora), mas os EUA deveriam parar de se endividar por isso. Foi o suficiente para a internet fervilhar com memes.
Em 2012, os memes causaram um efeito novo nas eleições, potencializando os discursos dos candidatos muito além do que a mídia tradicional poderia ter feito – e de maneira totalmente orgânica, sem nenhum custo ou incentivo especial. Na verdade, os memes têm uma facilidade para viralizar conteúdos como poucas mídias possuem. Memes têm grande poder de mobilização e articulação nas redes. É exatamente por isso que não podem ser ignorados e já estão sendo utilizados em campanhas eleitorais. Inclusive no Brasil.
O fenômeno dos memes no Brasil foi visto com uma intensidade absurda nas últimas eleições. Na verdade, os memes de 2014 foram criados praticamente em tempo real. Várias páginas do Facebook e Twitter postaram piadas com as afirmações dos candidatos nos debates antes mesmo do intervalo comercial. Os memes acabaram estigmatizando alguns políticos, transformando-os em verdadeiros personagens – como Eduardo Jorge, marcado pelo discurso pró-maconha, e Levy Fidelix, com seu aerotrem. Alguns memes também fizeram piada com o posicionamento dos candidatos, mostrando Aécio e Dilma em oposição e a tendência de Marina Silva de não tomar partido – “a polarização prejudica o Brasil…”.
Apesar de parecerem piadas inocentes, os memes geram impactos fortes nas imagens dos candidatos. O crescimento expressivo de Luciana Genro nas urnas, por exemplo, se deve, em parte, ao grande holofote dado pela internet à sua discussão com o Aécio Neves, no episódio “você não levanta o dedo pra mim!”, que ganhou várias montagens. Aécio e Dilma, que disputaram o segundo turno, também apareceram em incontáveis situações em que tiveram seus pontos negativos atacados humoristicamente na internet. Na construção de imagem e credibilidade de um candidato, esse tipo de atenção pode ter efeitos catastróficos.
Como proceder?
O fenômeno dos memes na internet muda a cara das eleições. Qualquer frase mal dita ou escorregão pode ser reproduzido milhares de vezes pelas redes e estigmatizar uma campanha inteira. Para piorar, quase sempre a autoria dos memes é anônima, o que praticamente impossibilita lutar diretamente contra quem os postou. Processar anônimos na internet ainda não é exatamente algo viável. Isso exige que os cuidados com a imagem e a comunicação de um candidato sejam impecáveis para evitar falhas. As campanhas bem estruturadas fatalmente precisam se organizar do ponto de vista online e calcular os impactos que o humor dos internautas pode causar – inclusive, usá-los a favor da própria campanha sempre que possível pode ser uma estratégia extremamente efetiva. O fato é que é impossível pensar em se candidatar hoje em dia sem saber exatamente quando você será motivo de piadas na internet – e como fazer para não se ter que quebrar a cabeça com elas.
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